quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Capitães da Areia - Jorge Amado

Título: Capitães da Areia 
Autor: Jorge Amado
ISBN: 9789896530075
Editora: Leya
Número de páginas: 286
Género(s): Romance


“Vestidos de farrapos, sujos, semiesfomeados, agressivos, soltando palavrões e fumando pontas de cigarro, eram, em verdade, os donos da cidade, os que a conheciam totalmente, os que totalmente a amavam, os seus poetas.” 

Crítica Literária:

 Este livro de Jorge Amado já estava na minha estante à espera de ser lido há anos. O único livro que tinha lido deste escritor antes deste tinha sido "O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá", que tinha adorado. A escrita de Jorge Amado é fluida e simples sem perder a beleza, as descrições são belissímas sem serem excessivas, servindo perfeitamente para complementar a história destes meninos-homens. Achei as descrições da Bahia incríveis, das tradições da área, das mães-de-santo.

Nesta narrativa conhecemos Pedro Bala, o chefe dos Capitães da Areia, Volta-Seca, João Grande, Gato, Professor, Sem-Pernas, Boa-Vida, Pirulito, Dora, Barandão e várias outras crianças sem pais, que vivem nas ruas da Bahia, roubando e metidos em todo o tipo de actividades ílicitas para viverem. Todos eles são personagens incrivelmente distintas entre si, com personalidades muito próprias e diferentes formas de encarar a vida e com diferentes objectivos. Todos eles são pessoas incrivelmente endurecidas pela vida nas ruas apesar de terem capacidade para amarem e vontade de serem amados, de ter uma família, apesar de já serem incapazes de o fazer mesmo quando a oportunidade se apresenta. Por outro lado, apesar de Jorge Amado dar ênfase ao facto de estas serem crianças que no fundo são vítimas da sociedade em que vivem não as "desculpabiliza" nem "minimiza" os seus actos de forma a tornar as personagens mais empáticas, estes Capitães são capazes de atrocidades (como Pedro Bala que violou uma menina virgem) tendo a noção de que o que fazem é errado. Mas também são capazes de lealdade e de amar e de se arriscarem quando é preciso, nem que seja só para agradarem alguém de que gostam. No fundo são como todos nós, com coisas boas e coisas más, mas com uma vida bem mais difícil que os mudou definitivamente e que os tornou capazes de coisas que a maioria de nós não seria. 
Devo acrescentar que, para mim, a melhor personagem é o Sem-Pernas. Este foi tão maltratado pela vida, tão obrigado a defender-se contra todas as ameaças externas que acaba por odiar todos, por temer todos e por escolher atacar antes que a vida o ataque; a sede de amor e de uma vida diferente é imensa mas as suas "cicatrizes emocionais" são de tal ordem que nem isso é capaz de aceitar para si próprio. Por temer perder outra vez aquilo que ganhou, por não conseguir adaptar-se a uma vida como a de uma criança normal depois de tudo aquilo por que passou, por lealdade aos restantes Capitães, Sem-Pernas, que quer tanto mudar e ser acarinhado nunca o consegue fazer.
Um retrato extremamente duro da vida das crianças de rua no Brasil (e em tantos outros países). É fácil compreender o motivo da censura deste livro, que nos dá uma imagem tão crua e ainda assim tão enternecedora destas vidas. Uma obra incontornável que recomendo a qualquer pessoa.

Resumo: Capitães da Areia - Jorge Amado (Goodreads)

Escrito por GC

domingo, 24 de novembro de 2013

Persépolis - Marjane Satrapi

Título: Persépolis
Autor: Marjane Satrapi
ISBN: 9789896661120
Editora: Contraponto
Número de páginas: 352
Género(s): Autobiografia; Novela Gráfica; Histórico


"Na vida vais conhecer muita gente estúpida. Se te magoarem diz a ti próprio que é porque são estúpidos. Isso vai ajudar-te a não reagir à sua crueldade. Porque não há nada pior que ser amarga e vingativa... Mantém sempre a tua dignidade e sê fiel a ti própria." 


Crítica Literária:
Andava a querer ler este livro há bastante tempo já que muitos amigos meus já o tinham lido e recomendado. Por outro lado, não sou muito de ler novelas gráficas e, anos depois da última vez que li uma, decidi dar uma oportunidade a este livro já que achei a história apelativa. 
O que achei acerca do trabalho artístico deste livro é que o mesmo é extremamente simples, preto e branco e não é um tipo de ilustração muito chamativo. Isto não me incomodou, especialmente porque eu não estava a ler o livro pelas ilustrações ou pelo seu valor artístico mas sim porque a história me parecia interessante. Depois de concluir a leitura cheguei à conclusão o estilo simples dos desenhos é uma coisa positiva já que, enquanto as ilustrações e a história de certa forma "combinam", uma não retira atenção à outra e em vez disso complementam-se. Não nos distraímos com o trabalho artístico em detrimento da trama. 
A trama refere-se a uma história honesta de uma família durante vários dos conflitos iranianos. É uma família de gente boa, que faz o que está ao seu alcance para viver o melhor possível (especialmente porque são de inclinação liberal) durante a confusão política que se instala no Irão. A história é-nos contada da perspectiva de Marjane enquanto criança, adolescente e adulta; adorei o quão honesta esta é e do facto de ter aprofundado bem os factos, ligando a situação iraniana e a vida durante os conflitos sociais e políticos às acções e escolhas da protagonista, mesmo enquanto adulta a viver na Europa. A acção flui com facilidade e é bem-humorada e séria nos momentos certos. Apesar de ter passado por momentos complicados na sua vida, apreciei o facto dos eventos serem descritos sem um toque de "auto-comiseração" ou sem a protagonista culpar outrém pelas suas escolhas. 
No fundo é uma história interessante do ponto de vista histórico e pessoal que nos capta a atenção e nos dá vontade de saber mais sobre os envolvidos. Recomendo. 


Escrito por GC

terça-feira, 19 de novembro de 2013

A Visita da Velha Senhora - Friedrich Dürrenmatt

 Título: A Visita
Autor:
Género(s): Tragicomédia; Peça de Teatro.


«Eu sinto-me como se me estivesse a tornar num assassino lentamente. A minha fé na humanidade é escassa. E por saber disso, tornei-me num bêbado

Crítica Literária:
Der Besuch der Alten Dame no título original em alemão, esta é uma história excelente onde o autor conduz o leitor a uma espécie de viagem, que começa com um maravilhoso e solarengo dia e, de repente, se descobr que afinal se calhar seria algo diferente...
O tema desta história é óbvio. Retrata uma visita especial de uma velha senhora a uma cidade que a expulsou quando era jovem. Estava tudo quase igual desde que ela tinha deixado o local, excepto o facto da cidade estar prestes a falir, por isso a sua chegada mudou esta situação, até porque ela se tornou uma pessoa muito rica o que a tornou a pessoa mais poderosa da cidade, pelo que tinha todo o local sob seu comando. As personagens achavam que precisavam do seu apoio, porque vai melhorar a situação da cidade, logo fariam o que ela pedisse. Então o que acontece se ela quiser um homicídio? É uma tragicomédia que explora temáticas de amor, dinheiro, poder e justiça. A Visita da Velha Senhora é genial na descrição súbtil das atitudes das pessoas daquela cidade. Há uma alusão aos países que começam guerras com pretextos de justiça, bem como tenta mostrar como as pessoas conseguem ver esta situação como normal e até mesmo inevitável. É uma peça instigante que nos encoraja a reflectir sobre as situações críticas nela mencionadas. Terá que ler para descobrir como se sentiria sobre isso! Fará com que pense no que a sociedade pode fazer se forem persuadidos. É uma história sobre um acordo imoral... ou será sobre a sua recusa? Irá a cidade ignorar a problemática que é um assassinato? Você aceitaria isso? Conte-me a sua posição depois de ler o livro, por favor.
Eu tive que ler esta tragicomédia de Dürrenmatt para a aula de Literatura, na Universidade, e esperava que fosse cansativa ou mais do mesmo, como acontece com as mesmas histórias que que nos são ensinadas nas aulas, mas revelou-se algo diferente. Devia ler e perceberá o sentimento. Um bom sentimento, na minha opinião. Provavelmente irá descobrir o autor no seu melhor!

Resumo: A Visita da Velha Senhora, Friedrich Dürrenmatt (Goodreads)

Escrito por TH.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O Principezinho - Antoine de Saint-Exupéry

 Título: Principezinho
Autor:
ISBN: 1555826635
Editora: Europa-América
Número de páginas: 81
Género(s): Clássico; Fantasia; Filosofia, Infantil.



 «Mostrei a minha obra-prima às pessoas grandes, perguntando se o meu desenho lhes metia medo.
As pessoas grandes responderam-me:
-Por que havia um chapéu de meter medo?
O meu desenho não representava nenhum chapéu. Representava uma jibóia a digerir um elefante. Então desenhei a jibóia transparente, para as pessoas grandes compreenderem. Elas precisam sempre de explicações. O meu desenho número 2 ficou assim: »
Crítica Literária:
"Todas as pessoas grandes foram uma vez crianças... mas apenas algumas se lembram disso“ como refere Saint-Exupéry. Eu acho que se ler este livro se relembrará a criança que poderá estar escondida dentro de si. A sua face de criança existe e não devia viver sem ela. Devia mantê-la viva! A vida é mais do que aquilo que a sociedade nos ensina. Este é o motivo que me leva a recomendar tanto este livro para crianças e adultos! Deviam lê-lo juntos, mas não perceberão o mesmo. É fantástico por ser um livro para a vida, para ler muitas vezes e perceber sempre algo de novo e esta é a razão pela qual este é um dos meus livros favoritos!
Quando nós lemos este livro, nós pensamos em como podemos conhecer alguém. É sobre conhecer o que a pessoa é para a sociedade ou sobre o que a pessoa realmente é? Importa a sua voz, o seu cheiro, o seu toque ou o seu peso, a sua força e a sua economia? Quando adultos, aprendemos tanto sobre a vida que nos esquecemos de coisas importantes sobre o conhecimento da criança. Claro que é possível porque "as palavras são uma fonte de mal-entendidos"... Não concorda?
"Só as crianças sabem o que procuram" por isso devia encontrar a criança que há em si e ler este livro para saber quão interessante é. Caso não consiga, eu recomendo-o na mesma só porque é demasiado especial para o deixar sem sem lido. [Sim, como deve ter percebido, eu não consigo deixar de usar frases do autor pois na minha opinião, ele é um dos melhores e é tão perfeito que eu estou a tentar mostrá-lo]. Aqui tem 91 páginas de conhecimento da humanidade, bem como uma história para as suas crianças antes de dormir.
Já agora, introduzindo um tema do livro e deixando um recado: "Tu tornas-te responsável, para sempre, por aquilo que cativas." Esta é uma mensagem interessante que fica retida na cabeça de quem lê o livro, geralmente. O Principezinho fica responsável pela sua rosa. E você é responsável por quem? Se a resposta é "ninguém", então devia pensar em cativar alguém, porque como escreveu o autor "As coisas mais bonitas deste mundo não conseguem ser vistas ou tocadas, mas sentidas com o coração"!

Resumo: O Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry (Goodreads)

Escrito por TH.